sábado, 20 de fevereiro de 2010

Resumo da revista ÉPOCA próxima semana

 Época

"Você acha que sou um poste?"

Dilma rousseff já fala como candidata à presidência. Falou pela primeira vez numa entrevista a ÉPOCA, concedida na última quinta-feira, dia de abertura do Congresso do PT que a aclamou como o nome do partido para disputar a sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Escolhida candidata por Lula, Dilma se apresenta como a melhor alternativa para dar continuidade aos projetos do atual governo. E faz questão de rebater a acusação dos adversários de que seja apenas um títere do presidente: "Duvido. Duvido que os grandes experientes em gestão tenham o nível de experiência que eu tenho. Duvido". Mas, questionada sobre a possibilidade da volta de Lula em 2014, Dilma aceita a hipótese. "Sem sombra de dúvida, ele pode. O presidente chegou a um ponto de liderança pessoal, política, nacional e internacional que o futuro dele é o que ele quiser", diz a ministra-chefe da Casa Civil – posto de Dilma até 2 de abril, quando deverá deixar o cargo para disputar as eleições presidenciais.

ÉPOCA – O que qualifica a senhora para ser presidente da República?
Dilma Rousseff – O governo Lula deu um passo gigantesco. Construiu um alicerce em cima do qual você pode estruturar a transformação de que o Brasil precisa. A partir de 2005, o presidente me deu a imensa oportunidade de coordenar o segundo governo dele. Estávamos enfrentando uma crise muito forte (o escândalo do mensalão) e uma disputa que tentava inviabilizar o governo. Ainda não tínhamos conseguido implantar a estabilidade de forma definitiva. A inflação e as contas públicas estavam sob controle, mas o crescimento ainda era baixo. As reservas também. Aí o investimento entrou na ordem do dia, e modificamos o jogo no segundo mandato do governo Lula. Tive a oportunidade de entrar exatamente nessa grande crise.

ÉPOCA – A oposição tem comparado sua candidatura à de um poste. O que a senhora acha dessa comparação?
Dilma – Você acha que, como ministra-chefe da Casa Civil, eu sou um poste?

ÉPOCA – Provavelmente quem diz isso acha que sim.
Dilma – Duvido. Duvido que os grandes experientes em gestão tenham o nível de experiência que eu tenho. Duvido.

ÉPOCA – A senhora tem esperança de que o deputado Ciro Gomes (PSB-CE) desista de se candidatar a presidente?
Dilma – Para mim, seria muito bom que ele estivesse em meu palanque. Mas, seja qual for a decisão dele, vamos respeitar porque ele é do nosso campo. Ciro é uma pessoa especial. Foi um companheiro de governo e participou com a gente dos momentos mais difíceis quando, em 2005, o governo estava sofrendo um certo cerco. Quero estar com ele no mesmo palanque, mas não é a minha preferência que vai informar o que o deputado Ciro Gomes vai fazer.

A construção da candidata Dilma

No sábado de Carnaval, por sugestão do amigo e governador da Bahia, Jaques Wagner, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, assistiu à saída do bloco afro Ilê Ayê, no bairro pobre do Curuzu, em Salvador. No meio da multidão, Dilma caminhou cerca de 100 metros ladeira acima, até a casa de dona Hilda, mãe de santo inspiradora do bloco, que morreu há seis meses. Mesmo ofegante, Dilma mostrava animação. Ela tomou "banho" de pipoca e de milho branco cozido, em um ritual de limpeza espiritual do candomblé, e soltou uma das 36 pombas brancas que marcam a saída do Ilê Ayê. Ao descer a ladeira de volta, sob os gritos de "Linda, linda, linda", Dilma tirou fotos e cumprimentou foliões.

Na Quarta-Feira de Cinzas, uma pesquisa do Ibope encomendada pela Associação Comercial de São Paulo mostrou um novo crescimento de Dilma na disputa presidencial. Escolhida e apoiada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma atingiu 25% das intenções de voto, enquanto o líder, o governador de São Paulo, José Serra, se manteve em 36% – em comparação a 38% do levantamento anterior, num cenário que ainda inclui Ciro Gomes na disputa.

Há sete anos, uma Dilma muito diferente chegou ao governo Lula. Militante com um ano de PT, ex-guerrilheira de organizações de esquerda como Política Operária (Polop) e Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (VAR Palmares), torturada e presa durante três anos, Dilma era conhecida como a campeã do PowerPoint, o programa de computador amplamente usado para palestras. Dilma era a técnica com fama de profissional disciplinada, concentrada no trabalho e capaz de recitar de memória números sobre a infraestrutura do país.

Ao longo do governo, ganhou a fama de autoritária. Em 2004, Dilma gritou com o então presidente da Eletrobrás, Luiz Pinguelli Rosa, durante uma discussão presenciada por várias pessoas. Rosa levantou-se da mesa, pediu demissão e saiu. Subordinados também reclamavam de broncas aos gritos e rompantes de raiva de Dilma. Aos poucos, essa Dilma durona passou por uma metamorfose. Fez uma cirurgia e trocou os óculos por lentes de contato. Passou a sorrir mais. Começou a misturar frases mais coloquiais e amigáveis em meio a estatísticas em assuntos como energia, petróleo e siderurgia. Fez pequenas intervenções plásticas no rosto e adotou roupas menos sérias. A Dilma técnica foi substituída pela Dilma política, risonha e candidata à Presidência.

A pré-campanha de Dilma está, porém, tomando cuidados. No Carnaval, Dilma e sua comitiva viajaram num avião alugado pelo PT e evitaram carros oficiais para visitar Recife, Salvador e Rio de Janeiro. Foram usados carros alugados. O objetivo da viagem era aproveitar o descanso para exibir a ministra ao máximo em ambientes onde ela nunca fora vista. No sábado, Dilma saiu cedo de Brasília com uma comitiva que incluía o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, e assistiu ao desfile do bloco Galo da Madrugada, no Recife. Antes da folia, reuniu-se com o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, e com o deputado Ciro Gomes (CE), também pré-candidato à Presidência, ambos do aliado PSB. O assunto do encontro foi a campanha presidencial, tratada na conversa com a descontração do Carnaval. Depois Dilma foi ao camarote do governo e passou pouco mais de uma hora se divertindo antes de voar para Salvador.

Obra de alta velocidade

Com orçamento inicial de R$ 34,6 bilhões, o Trem de Alta Velocidade (TAV) ligando o Rio de Janeiro a São Paulo e Campinas deveria estar pronto até a Copa do Mundo de 2014. O prazo já foi descartado. Há duas semanas, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, afirmou que o TAV estará concluído até a Olimpíada do Rio de Janeiro, em 2016. Será difícil cumprir esse prazo. Apesar de sua importância, o trem-bala ainda não despertou o mesmo interesse de outras obras de infraestrutura anunciadas pelo governo Lula, como a Hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu, que passa por um controverso licenciamento ambiental. Pelo valor e pela importância, deveria despertar.

Apesar das facilidades criadas por Brasília, ainda há mais dúvidas que certezas. A maior delas é o prazo de cinco anos estipulado como meta. Seria um tempo recorde. A média mundial para obras do gênero é de dez anos. O apertado cronograma de implantação também vai precisar vencer os ritos burocráticos da legislação brasileira. O último martelo sobre a viabilidade econômica do TAV ainda precisa ser batido pelo Tribunal de Contas da União (TCU). Antes de publicar sua decisão, o TCU aguarda os complementos propostos nas audiências públicas sobre a obra. Há pedidos de novos túneis e de transposição de estradas por viadutos. "Sabemos que isso pode alterar o projeto, por isso ainda não começamos a contar o prazo para publicar a decisão, que deverá sair em até 60 dias", diz Adalberto Vasconcellos, da secretaria de desestatização do TCU.
Veja

A candidata conquista o ninho

"Quando a gente pensa que já viu tudo, vê que não viu nada", disse Dilma Rousseff depois de assistir ao desfile carnavalesco da escola carioca vencedora, a Unidos da Tijuca, que apresentou o enredo O Segredo. A frase merece o comentário que Dilma mais aprecia: "A senhora tem razão!". Quem nunca pensou em vê-la sambar com um gari na avenida, viu. Quem achava impensável ver a ministra dar colo a Mercy Jones, filha de 4 anos de Madonna, rainha do pop, viu. E quem pensava que o mais conhecido segredo da República, a candidatura presidencial de Dilma, fosse um enredo com desfecho incerto, viu sua apoteose no congresso do PT na semana passada. Dilma Rousseff, ministra-chefe da Casa Civil do governo Lula, foi finalmente apontada como a candidata à Presidência da República.

A ministra já vinha ensaiando essa sua versão eleitoral exibida no Carnaval carioca. Ela foi testada mesmo em outra festa, a do IV Congresso do PT, que reuniu 1 300 dirigentes e militantes na capital federal, com o objetivo de aclamá-la pré-candidata do partido. A aclamação oficial pelo partido que lhe torcia o nariz, mas que agora depende dela para se manter no poder, é um desses momentos acrobáticos que só a política pode produzir. A escolha de Dilma revela o poder absoluto de Lula sobre o partido que ele fundou há trinta anos, fez crescer e levou ao topo do poder em Brasília. Revela também que continua sendo um desafio manter estável a volátil química petista, em que o anacronismo marxista radical minoritário convive com uma maioria convertida à democracia social. Lula sempre conseguiu manter sob controle essa reação em cadeia, afunilando todas as suas energias em benefício de sua própria carreira política. Dilma terá de aprender a fazer essa mágica. Por enquanto, ela conta com Lula para diminuir a concentração de ideias tóxicas explosivas no caldeirão ideológico do petismo. Na campanha e, eventualmente, no poder em Brasília, ela vai ter de domar os radicais com suas próprias forças.

10 perguntas para Dilma Rousseff

Henry Adams, outro autor que a senhora lê com assiduidade, escreveu que "conhecer a natureza humana é o começo e o fim de toda educação política". A senhora acredita que conhece o bastante da natureza humana, em especial a dos políticos, mesmo sem ter disputado eleições antes?
Conheço bem o pensamento de Henry Adams para saber que nessa citação ele se refere à política no seu sentido amplo. Falando no sentido estritamente eleitoral da sua pergunta, acredito que minha experiência de mais de quarenta anos de militância política e gestão pública permite construir um relacionamento equilibrado com as diferentes forças partidárias que participarão desse processo eleitoral.

De bico fechado

Enquanto o PT faz barulho para festejar a candidatura de Dilma Rousseff ao Planalto, os tucanos do PSDB continuam de bico calado. O partido segue o voto de silêncio imposto pelo governador de São Paulo, José Serra, que resiste a admitir publicamente o que todos já sabem: será ele o candidato da oposição à Presidência da República. Líder em todas as pesquisas, Serra avalia que não teria nada a ganhar ao oficializar agora sua posição de candidato. Para ele, a antecipação só interessa a quem está atrás na corrida – no caso, o PT. Serra continua determinado a se lançar candidato apenas no fim de março, quando será obrigado a renunciar ao cargo de governador para poder disputar as eleições de outubro. É o que ele chama de "estratégia nervos de aço": seguir a rota traçada sem se abalar com a movimentação do PT. A frieza do governador, no entanto, deixa à beira do infarto a maior parte de seus aliados. Eles gostariam de botar o bloco na rua o mais rápido possível para se contrapor à campanha petista, que vai ganhando corpo. "É preciso começar a definir nosso caminho com alguma urgência. Temos de estabelecer os pontos centrais de nossa proposta de governo e como será nossa comunicação. Mas é evidente que a estratégia do partido não pode avançar além da estratégia do candidato", admite o presidente do PSDB, o senador Sérgio Guerra.

Faroeste caboclo

Para quem depende deles, pior que um governador preso é um vice que não consegue governar. É o que está acontecendo em Brasília. O empresário Paulo Octávio, governador interino do Distrito Federal, acusado de integrar a quadrilha que tomou conta da capital, tentou convocar seus secretários para uma reunião no fim de semana. Pouca gente retornou. Uma secretária disse que deixaria de ir porque, sendo adventista do sétimo dia, não trabalhava aos sábados. Outro secretário mandou avisar que estava de férias. Paulo Octávio então desabafou: "Assim não dá. Vou renunciar". Logo depois, desistiu da ideia. Na quinta-feira passada, a oscilação se intensificou a ponto de, num espaço de poucas horas, ele anunciar sua renúncia, discursar dizendo que mudara de ideia, atribuir sua decisão a um pedido do presidente Lula – e, em seguida, ser cabalmente desmentido pelo Palácio do Planalto. Enquanto isso, o governador afastado José Roberto Arruda, preso por tentar corromper testemunhas, passa os dias numa salinha de 16 metros quadrados, na sede da Polícia Federal. Com o governador antigo comendo marmita na prisão e o novo dizendo que desdizia o que havia dito, Brasília chegou ao fim da semana à beira de um transe político – e ficou perto, perigosamente perto, de sofrer uma intervenção federal.

O caso de Brasília é diferente: nenhum pedido de intervenção jamais chegara com tanta força à porta do STF. O raciocínio apresentado por Gurgel é simples: os homens da cúpula do governo e do Legislativo brasiliense não só integram a quadrilha que tomou conta de Brasília como estão atrapalhando as investigações. Enquanto os capi de Arruda subornavam testemunhas, os deputados da Câmara de Brasília impediram, durante três meses, que se votasse o pedido de impeachment do governador. A ameaça à democracia, portanto, provém da impossibilidade concreta de que esses políticos sejam responsabilizados – e afastados – pelas barbaridades que cometeram. Resume o procurador-geral da República: "A intervenção busca resgatar a normalidade institucional (em Brasília)". Talvez nem seja preciso chegar a tanto. Com a prisão de Arruda, seus aliados estão batendo em retirada. Na semana passada, a Câmara aceitou quatro pedidos de impeachment do governador encarcerado.
Istoé

O que P.O. não conseguiu comprar

É impossível caminhar por Brasília sem avistar alguma placa com o nome de Paulo Octávio. Muitas delas estão posicionadas no alto de edifícios em construção. Fórmula que o empresário encontrou para divulgar o nome de sua empresa e ao mesmo tempo sua marca política. Aos 60 anos de idade, o governador interino do Distrito Federal é dono de um patrimônio que supera R$ 1 bilhão construído em grande parte por suas boas relações com os governantes do Planalto. Na área da construção civil, carro-chefe das organizações Paulo Octávio, já foram vendidos mais de 38 mil imóveis. Ele também é dono de três shopping centers, quatro rádios e uma televisão, além de quatro dos maiores hotéis de Brasília P. O. construiu sua carreira orbitando em torno do poder e cruzando com facilidade a frágil fronteira entre os interesses públicos e privados. Utilizando-se da influência do pai, Cléo Pereira, dentista da família do expresidente Juscelino Kubitschek, P. O., aos 15 anos de idade, vendia seguros e títulos do Fundo 157, do extinto Banco União Comercial, de Roberto Campos. De olho no crescimento imobiliário de Brasília, P. O. decidiu, em 1975, abrir sua própria construtora. Um dos primeiros grandes negócios veio poucos anos depois, já no governo do general Figueiredo. Ao se casar com Márcia Fonseca, filha do almirante Maximiano da Fonseca, aproximou-se do empresário Sérgio Naya.

As relações estreitas com governantes e seus palácios despertaram desde cedo o sonho de governar o Distrito Federal. P. O. chegou lá e agora corre o sério risco de ver o sonho tornarse um pesadelo de proporções ainda não mensuráveis. As investigações da Operação Caixa de Pandora, que levaram à prisão de José Roberto Arruda, também ameaçam o governador interino. O motivo da desgraça de P. O. é também o alicerce de toda a sua vida empresarial: as incestuosas relações entre o dinheiro público e o privado. A amigos, no entanto, ele culpa seu partido. "Estou pagando pelo erro do DEM, que preferiu apoiar o Arruda para o governo em 2006. Arruda é um inconsequente", desabafou em conversa reservada.

À procura de um governo

Brasília mergulhou, há uma semana, na pior crise institucional dos seus 50 anos de história. Com o governador José Roberto Arruda preso, e seu vice Paulo Octávio sob ameaça de impeachment, a capital da República, que nasceu de linhas exatas traçadas por Lucio Costa e Oscar Niemeyer, vive dias de incerteza. A população já começa a sentir os efeitos do vácuo de poder, com a paralisação de obras e a falta de medicamentos em hospitais (leia quadro na pág. 38). Na manhã da quinta-feira 18, ao completar sete dias detido na sede da Polícia Federal sob acusação de obstruir o inquérito do Mensalão do DEM, Arruda se dizia deprimido. "Me tirem daqui, quero sair o mais rápido possível", implorava aos seus advogados. No mesmo momento, Paulo Octávio, abandonado pelo DEM, pedia ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva apoio para manter-se no cargo e evitar a intervenção no Distrito Federal. Saiu da audiência de mãos vazias. "É preciso esperar o que a Justiça vai dizer. De nossa parte, vamos manter os investimentos para que as obras do PAC não parem", disse o presidente, sem se comprometer. Àquela altura, Lula já sabia que os agentes da Operação Caixa de Pandora finalizavam um novo pedido de busca e apreensão. O alvo desta vez será uma casa do luxuoso bairro do Lago Sul, onde a Polícia Federal (PF) acredita que os operadores de Paulo Octávio, também conhecido como P.O., guardam dinheiro e documentos que o relacionam ao esquema de pagamento de parlamentares.

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